É estranho pensar sobre você ou lhe escrever, porque eu já não te amo mais. Mas eu te amei, amei mais do que era possível para um ser humano entender ou descrever. Não sei se essa memória ainda existe em sua mente: era um dia muito frio de agosto quando nos conhecemos — no sentido literal e no figurado também. Éramos desconhecidas que por ordem do destino se tornaram conhecidas, depois amigas, melhores amigas, então a paixão enlouquecedora uma da outra, aí melhores amigas de novo, amigas, conhecidas, para então nos tornarmos o que somos hoje: quase desconhecidas.
No início, eu sabia que havia perigo, mas o sentimento de euforia, talvez até de adrenalina correndo pelo corpo, me dizia que podíamos ser algo bom. E nós fomos mais do que algo “bom”, fomos estupendas e horríveis em muito pouco tempo. Às vezes tenho a impressão que os últimos cinco anos foram uma invenção da minha mente conturbada e isso realmente dói, mas não me arrependo de nenhum segundo que passamos juntas; mesmo aqueles que me fizeram querer me rasgar ao meio.
Eu era jovem, com muitos sonhos e problemas dentro da mesma cabeça: mortes, doenças, faculdade, trabalho, poemas mal escritos, sentimentos intensos, tristeza sufocante, picos de felicidade e um monte de confusão. E você não se importava com isso; pela primeira vez eu havia encontrado alguém que, na minha cabeça, entendia e aceitava quem eu era — ainda que alguns momentos fosse sufocante me ter.
As brincadeiras em forma de cantadas se transformaram em um sentimento estranho, o coração palpitando como se fosse sair pela boca cada vez que pensava no som da sua voz. Me lembro de ter um melhor amigo na época que me viu chorando horrores por você — sim, loucura, já que eu estou terminando a faculdade —, e quando eu contei, a única coisa que ele conseguiu me dizer é “ela tem sorte por te ter”; o que eu ainda não entendia na época era que eu mesma é que não compreendi a sorte que era me ter.
Não foi um amor quieto, nem perto disso. Foi alucinante, quente e extremamente perturbado. Idas e vindas, travesseiros no amanhecer encharcados de lágrimas, pedidos de desculpas e raiva logo em seguida, vidros quebrados pelo chão, fúria gritada aos quatro ventos; mas, ao mesmo tempo, um companheirismo indescritível, um desejo gigante pela felicidade de outra pessoa. Fomos o que minha mãe chamava de “amor épico”, se nunca mais me apaixonar, pelo menos tive um para contar a alguém quando for velha.
O fim foi como se alguém mutilasse meu corpo inteiro. Meses de tentativas falhas em ter o que éramos no início, até entender que o que eu precisava realmente fazer era te deixar ir. E quando fiz, doeu, noites desejando que o teto desabasse sobre a minha cabeça, um sentimento desesperador de não saber mais como viver. Mas quer saber? Eu estou aqui. Entendi que a felicidade não são picos como tinha com você, encontrei o que eu tanto procurei dentro de mim mesma; e, olha só que ironia, mesmo com a mesma confusão de problemas e sonhos, posso encher a boca para dizer que eu finalmente aprendi me amar e que sou feliz, sem depender de ninguém.
Às vezes isso me assusta, na real. Foi um processo tão meu e tão diferente de tudo o que eu havia vivido que parece loucura, mas eu não dependo mais de conversar com você pra me sentir bem, ou de me apegar a memórias passadas; sendo sincera, eu já nem penso mais em você, como provavelmente você também não pensa mais em mim.
Ainda assim, eu queria dizer que amei o nosso amor, amei a tua presença enquanto a tive e amo o que a tua partida me ensinou: antes de amar qualquer um, eu preciso me amar como se não houvesse um amanhã ou outro alguém. E também desejo o mesmo que há anos atrás: que apesar das dores, você também encontre a felicidade.
Adeus, querida.
Com carinho, seu amor extinto.