Seus pés descalços estavam cortados, o que tornava possível a criação de um rastro sangrento por entre os galhos secos que jaziam no chão. Estava despida, no meio da floresta, em um dia consideravelmente frio, mas a fúria em seu sangue a mantinha quente.
Acordou em um lugar inóspito naquela manhã. Em uma cova rasa, rodeada por rosas brancas e algumas flores em tons de rosa. De todas as tentativas de morte entre ela e a trigêmea Ternura, aquela havia sido a mais ridícula de todas. Carnificina em uma casa de bonecas fofa e delicada? Purpurina? Ah, tinha que ter muita paciência para aturar. Crianças sabiam ser insuportáveis.
— Se Ternura acha que deixarei barato, está muito enganada. Eu vou acabar com a raça daquela bruxa em miniatura que se acha esperta.
Chegou em casa bufando, assustando a pequena Tristeza que dormia no sofá. Subiu as escadas da mansão em um pulo, mas não foi para o seu quarto. Invadiu, com carinho, o ninho da Ternura, sujando todo o carpete fofamente rosa.
— Dormiu bem, pequenina?
O olhar sínico de Ternura morreu antes mesmo de ser visto pela Imperatriz. A menina ficou assustada com a visão do inferno e logo se arrependeu de não ter vestido sua “vítima” antes de enterrar.
— O que foi? Achou que teria tempo de tomar o café da manhã? Por favor, né?! Se bem que... É, acho que um café da manhã seria ótimo. Uma pena, para você, eu não gostar de café. Acho que vou querer algo mais denso.
Imperatriz voou para cima de Ternura, mordendo seu pescoço e sujando os lençóis de ursinho da menina. O sangue escorria a medida que a mordida se intensificava. Ternura nada pode fazer além de tentar gritar. Não estava preparada para a luta e não teve tempo de pensar em nenhum feitiço. Imperatriz tampou sua boca. Não satisfeita com seus atos, arrastou a menina pelo quarto, jogando-a em cima da pilha de ursinhos.
— Estou amando redecorar o seu quarto, Ternurinha. Olha e me diz se ele não fica muito mais fofo pintado de vermelho sangue!
Ternura não conseguia mais se mover. Imperatriz não era bruxa, mas suas artimanhas eram poderosas e ela sabia muito bem inibir poderes e causar dor e sofrimento.
— Da próxima vez que você tentar alguma coisa, acho bom se preparar melhor. Aquela cova estava ridícula. Me lembra de te ensinar a usar a pá de cemitério depois. Vai ser até mais fácil para você. Boa morte, Ternura. Ah, aproveita e fala para o Luci que o chá ainda está de pé. Só esperando ele marcar o dia.
Imperatriz saiu do quarto rosa e caminhou, plenamente, em direção a porta mais sombria que existia na mansão. O rastro de sangue havia se intensificado graças a pequena ajuda da Ternura. Precisava de um banho, roupas quentes e da sua preciosa coleção de facas.