A faca era afiada e comprida o suficiente para efetuar qualquer tipo de corte sem muito esforço. Ela era muito simples, cabo de plástico, tendo como único detalhe mais trabalhado o sobrenome da família gravado na lâmina. Foi dada como presente ao patriarca da família na festa de aniversário em que completou quarenta anos. O patriarca a olhou fixamente por alguns instantes e viu como era perfeita para cortar qualquer tecido de forma rápida e regular. A sua esposa sempre imaginou que ele usaria a faca para cortar o bolo, no entanto ficou incrédula em ver que foi usada para rasgar sua garganta. No chão, viu seu marido utilizando a faca para perfurar caixas torácicas, crânios e artérias. Seus parentes e amigos foram caindo um pós o outro, todos vítimas de golpes fatais. Mas o momento de maior agonia ocorreu quando viu o seu marido se aproximando do único filho que tinham. Seu coração parou antes de ver o desfecho da cena.
A criança, no entanto, foi poupada e cresceu ao lado de seu pai. Três anos depois da morte de sua mãe, ela completou doze anos de idade e teve o primeiro contato com a faca. Até então, ela se sentia muito angustiada em ver seu pai a continuar tirando vidas na sua frente. Também não entendia e não aceitava muito bem a ideia de perder a sua mãe por puro prazer em matança que alimentava a alma de uma pessoa. No entanto, com a faca na mão, vendo seu sobrenome logo acima do reflexo de seu rosto na lâmina suja de sangue, sentiu uma sensação inexplicável e viu como a morte fazia sentido se oriunda de golpes certeiros. A faca, deste momento em diante, nas mãos do patriarca e de seu filho, passou a participar de matanças gritantes, em que corpos eram mutilados e posteriormente jogados em valas. Crianças tinham membros cortados, idosos, olhos perfurados; mulheres tinham seios dilacerados, homens, testículos arrancados; todos tinham uma morte brutal.
A união entre os dois durou por muito tempo, até o patriarca ser morto. Ele teve sua garganta rasgada por um golpe certeiro disferido por seu filho quando seu neto fez nove anos de idade. A criança pode sentir a enorme satisfação de seu pai em matar seu avô, como se fosse um gesto de vingança. Também pode sentir, sem mesmo tocá-la, a forte energia que emanava da faca, a qual era carregada por um forte desejo de sangue. Incrivelmente, a criança e a faca tiveram uma conexão muito forte, a qual chegou ao auge quando estiverem em contato pela primeira vez. Ao completar doze anos de idade, a criança recebeu a faca de seu pai e pode então entender o seu real desejo; seu coração quase parou, tamanha foi a tristeza que lhe acometeu. Assim, com um golpe certeiro, a primeira vida tirada pela criança foi a do seu pai. Logo em seguida, a criança pediu desculpas a faca pelos anos que fora utilizada de forma inconsequente e, por isso, ele realizaria o seu maior desejo: ser embebedada pelo sangue de todos os membros da família que cravou seu nome em sua lâmina. A criança penetrou a faca no seu peito, a qual dilacerou costelas e o coração. Ela caiu com um leve sorriso no rosto, pois sabia que sua família e a faca agora estavam em paz e banhadas pelo sangue da morte.